O filósofo, Mário Ferreira dos Santos,
diz que “o ser humano é um ser que sempre carece de prestígio”. Com efeito, um
dos meios para ser reconhecido é através do da busca pelo saber, ou melhor,
através do aperfeiçoamento intelectual. Por esse meio, a conquista e formação
de opiniões alheias ficam a espreita e, como tal, esse ser (ser humano) se
torna alvo de atenções e de reconhecimento de uma massa: o povo. Sendo assim,
nós, enquanto cristãos, devemos saber lidar com a tal situação; pois para o
cristão, o saber não é tudo. Para o cristão, o objetivo é que a salvação das
almas é a lei suprema, inclusive a dele mesmo; o objetivo é a busca incessante
e incansante pela Verdade, pois ela é o nosso fim último, e o fim último é
Deus.
Então, como lidar com a situação de ser
douto em assuntos teóricos e não ter humildade? De que adiantaria o Cristão ser
dotado de todo o conhecimento, se não tem humildade, e, tampouco, a caridade? Como sabido, “[...] todo homem tem desejo
natural de saber; mas que aproveitará a ciência, sem o temor de Deus? Melhor é,
por certo, o humilde camponês que serve a Deus, do que o filósofo soberbo que
observa o curso dos astros, mas se descuida de si mesmo. Aquele que se conhece
bem se despreza e não se compraz em humanos louvores. [...] Quanto mais e
melhor souberes, tanto mais rigorosamente serás julgado, se com isso não
viveres mais santamente” (Imitação de Cristo, Do humilde sentir de si
mesmo, livro I, cap. II).
São Tomás de Aquino, o Doutor angélico,
sabiamente diz: “A humildade é o primeiro degrau para a sabedoria”. Já, São
Francisco de Assis, diz que humildade é companheira da caridade e a
caridade da humildade. E ambas destroem o orgulho”. No tocante a humildade e o
desejo do saber, G.K. Chesterton abre mais o nosso olhar ao pensamento de São Tomás de Aquino e de São Francisco de
Assis, conforme foi supracitado; G.K. Chesterton salienta que “a antiga
humildade era uma espora que não deixava o homem parar; não um prego na bota
que o impedia de ir em frente. Pois a antiga humildade fazia o homem duvidar de
seus esforços, o que possivelmente o levava a trabalhar com mais afinco. Mas a
nova humildade faz o homem duvidar de seus objetivos, e isso o fará parar de
trabalhar pura e simplesmente” (Ortodoxia, p. 54, Ed. Mundo Cristão).
De maneira tão simples, tão direta e tão
ostentosa, o livro Imitação de Cristo (livro I, cap. I) nos admoesta:
“Que te aproveita discorrer com
sabedoria sobre a Trindade, se não é humilde, e por isso lhe desagrada? A
verdade é que não são palavras sábias que fazem o homem santo ou justo, mas sim
é a vida virtuosa que o faz agradável a Deus. Ainda que soubesse de cor toda a
Bíblia e os ditos de todos os filósofos, que te aproveitaria tudo isto sem o
amor e a graça de Deus? Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se
afadiga debaixo do sol? (Ecl 1,3). Vaidade das vaidades, tudo vaidade, exceto
amar a Deus e só a ele servir (Ecl 1,2). A essência da sabedoria é, pelo o desprezo
do mundo, caminhar para o reino dos céus.”
Por fim, é por meio da humildade que
chegamos à perfeição, que é Deus. É por meio da humildade que conhecemos a nós
mesmos; por meio dela que reconhecemos que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria.” (Prov. 1,7).
Por meio dela, a soberba se precipita ao chão, e, a cada dia, mais chegamos
perto do Amor de Deus: a caridade.
Por: Tiago Maria
In Corde et Jesus et Mariae , semper.